sexta-feira, 22 de abril de 2011

Caos viário é mais uma pedra na chuteira da Copa 2014

A situação dos aeroportos ainda é o principal obstáculo para a organização do evento. Por Claudio Carneiro

Enquanto as autoridades políticas e esportivas brasileiras se esforçam em afirmar que o país está em dia na sua preparação para receber a Copa do Mundo de 2014, os fatos parecem dizer o contrário. Além dos aeroportos com problemas de infraestrutura – como é o caso do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, considerado um dos piores do mundo – algumas cidades, como Fortaleza, Salvador e Recife vivem o caos viário, com engarrafamentos semelhantes aos encontrados em São Paulo e no Rio de Janeiro. Em muitas capitais, a rede hoteleira ainda deixa a desejar e, por último, mas não menos importante, diversos estádios estão com obras atrasadas, enquanto em outros, os trabalhos sequer começaram.

Quando o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) – ligado ao Governo Federal – apontou que nove dos treze aeroportos que receberão investimentos para a Copa do Mundo não ficarão prontos a tempo, o ministro do esporte, Orlando Silva, admitiu o que a FIFA já sabia: a situação dos aeroportos é o principal obstáculo para a organização do evento. “O cenário é que esses investimentos dificilmente ficarão prontos a tempo”, disse o coordenador de Infraestrutura Econômica do Ipea, Carlos Campos. Os terminais de Brasília, Campinas, Confins, Cuiabá, Fortaleza, Guarulhos, Manaus, Porto Alegre e Salvador não terão suas obras concluídas para a Copa. “Se tudo der certo, o de Curitiba ficará pronto no mês do torneio”, afirmou.

O presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, garante que o estádio mais importante do evento – o Maracanã – estará pronto e reformado em dezembro de 2012 para receber, até mesmo, a Copa das Confederações de 2013. O estádio ainda está em fase de demolição de arquibancadas enquanto ainda se discute pela derrubada ou não de sua cobertura. Teixeira nega atraso também na construção do Estádio do Corinthians, aquele “Quadradão”, em São Paulo, que ainda não teve suas obras iniciadas.

Irônico, Teixeira chamou o presidente da FIFA Joseph Blatter para acompanhar o andamento das obras: “Convido o presidente para vir ao Brasil e ver de perto o progresso que ele mesmo elogiou após uma reunião do conselho FIFA/COL, realizada em Zurique”. Tal excesso de confiança é o traço de quem não visita, há algum tempo, as três principais cidades do Nordeste que vivem hoje sérios problemas de mobilidade. O aumento da frota é um deles. Entre 2006 e 2010, Fortaleza viu seu número de veículos aumentar em mais de 242.011 mil e Salvador recebeu mais 207.153 unidades, totalizando 660 mil veículos entre carros de passeio, motos, ônibus, caminhões e congêneres. Recife tem mais 151.605 veículos rodando em suas ruas do que há cinco anos. Para piorar, estas capitais receberam baixos investimentos em transporte público e infraestrutura viária.

Responsável pelos planos de mobilidade da prefeitura de Recife, Milton Butler acredita que não há mais condições de se pensar no transporte individualizado. “A frota de veículos aumenta indefinidamente, mas a cidade é limitada. Nossa prioridade é o transporte público”. Sobre a criação de corredores exclusivos para ônibus – os Bus Rapid Transit (BRTs) – o urbanista se diz o maior defensor do sistema – que considera mais barato, mais eficiente e mais “pé no chão”. Butler ressalta, no entanto, que a mera divisão de pistas com uma faixa no meio pintada de azul – como foi feito no Rio de Janeiro – não é BRT. É BRS, de Bus Rapid Service. “O sistema BRT requer horários rígidos de chegada do ônibus no ponto. Além disso, a faixa de rolamento dos coletivos tem de estar num plano diferente do nível da rua”. Por último, o especialista garante que a estrutura viária da capital pernambucana estará pronta para a Copa do Mundo e, até mesmo, para a Copa das Confederações.

Saindo das ruas e entrando em campo, a FIFA exige que todos os estádios tenham, pelo menos, 40.000 assentos. O estádio da abertura, pelo menos 60.000 lugares e o de encerramento, mais de 80.000. A entidade determina ainda que todos os espectadores tenham cadeiras individuais numeradas e com encosto de 30 centímetros. Coisas que o torcedor não está habituado a ver nos estádios – banheiros limpos, amplos corredores de entrada e saída, total visibilidade do campo e tribunas de imprensa bem equipadas – constam da lista de exigências da FIFA. Nas imediações da arena de jogo é preciso haver hospitais e estacionamentos. No entorno de diversos estádios brasileiros – como o do Maracanã – o que se vê são populações de rua dormindo ao relento – ou nas próprias bilheterias – praticando furtos ou esmolando. Está na hora de decidir se é melhor entrar em campo ou “pendurar as chuteiras”.

Fonte: http://opiniaoenoticia.com.br

Editado por ZeRepolho

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