PÂNICO NO PT COM A
DELAÇÃO PREMIADA DE MARCOS VALÉRIO É CONFISSÃO DE CULPA
Se o
PT não tem nada a temer, se não cometeu nenhum crime a mais do que as dezenas
já comprovadas, por que esta preocupação oficial e institucional com uma
possível e desejável delação premiada de Marcos Valério? O que mais o PT pode
ter feito no Mensalão que o faz reagir de forma tão assustada e tão esbaforida
em relação a um novo depoimento do seu braço financeiro no Mensalão? Existirão
mais assinaturas? Mais esquemas subterrâneos que ainda não vieram à tona? A
matéria abaixo é da Folha de São Paulo.
A
cúpula do PT procurou ontem desqualificar o novo depoimento que o empresário
Marcos Valério Fernandes de Souza, condenado pelo Supremo Tribunal Federal por
sua atuação como operador do mensalão, teria prestado à Procuradoria-Geral da
República sobre o esquema. Saindo em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, alvo principal de um novo pedido de investigação de partidos de
oposição, os petistas disseram que Valério está tentando se livrar da pena
imposta pelo STF e por isso não merece credibilidade.
Ontem,
o jornal "O Estado de S. Paulo" informou que Valério prestou novo
depoimento ao Ministério Público em setembro. Os detalhes são mantidos em
sigilo, mas, segundo o jornal, o empresário citou Lula e o ex-ministro da
Fazenda Antonio Palocci. O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, disse
duvidar que Valério tenha algo a acrescentar ao que já foi dito no julgamento
do mensalão e ironizou o novo depoimento: "Se eu fosse condenado a 40 anos
de prisão também estaria me mexendo".
O
presidente nacional do PT, Rui Falcão, foi na mesma linha. "Não temos nada
a temer", afirmou, num intervalo da reunião que a Executiva Nacional do
partido fez ontem. "Tudo o que ele poderia ter falado falou no
processo."
Apontado
como o operador do mensalão, Valério foi condenado pelo STF por corrupção
ativa, peculato, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e evasão de
divisas. Suas penas somam mais de 40 anos de prisão, mas ainda poderão ser
revistas pelo STF.
Segundo
"O Estado de S. Paulo", o empresário mencionou no depoimento outras
remessas de recursos do mensalão ao exterior além das que foram feitas para o
publicitário Duda Mendonça, que trabalhou na campanha de Lula em 2002 e foi
absolvido.
De
acordo com a reportagem, Valério também disse no depoimento que foi ameaçado de
morte e mencionou o assassinato do prefeito petista de Santo André, Celso
Daniel, morto em 2002.
O
procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou por meio de sua
assessoria de imprensa que não se pronunciará sobre o assunto. O advogado de
Marcos Valério, Marcelo Leonardo, disse não ter "nada a declarar".
Valério enviou em setembro um fax ao Supremo dizendo-se disposto a depor
novamente e pedindo proteção das autoridades, alegando que corre risco de vida.
Ministros
do STF disseram à Folha que Valério quer entrar no programa federal
de proteção a testemunhas para garantir tratamento especial na cadeia ou ser
enviado a um lugar não identificado, evitando assim a prisão. Ontem, o DEM
e o PSDB recuaram da decisão de pedir ao Ministério Público Federal a abertura
de inquérito para apurar se Lula participou do esquema do mensalão após serem
informados do novo depoimento de Marcos Valério. O PPS afirma que vai
entrar com o pedido, mesmo sem o apoio do DEM e PSDB. "Isso é problema
deles, nós vamos protocolar a ação na terça-feira", disse o presidente do
PPS, Roberto Freire (SP).
O
presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), considerou
"lamentável" a tentativa de vincular Lula ao mensalão: "Depois
do julgamento, depois de todas as análises feitas, de todas as investigações
feitas, eu diria que não cabe mais nenhum tipo de ilação sobre esse tema".
O
líder do PT na Câmara, deputado Jilmar Tatto (SP), disse que Valério "é
uma pessoa desqualificada". O PT decidiu adiar a publicação de um
manifesto com críticas aos ministros do STF para depois que forem definidas as
penas dos 25 condenados. O julgamento será retomado na quarta-feira.
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