São
impressionantes os números que traduzem a opção preferencial de boa parte do
eleitorado pelo silêncio diante das urnas municipais: 25% dos brasileiros e 30% dos paulistanos anularam, deixaram o voto em
branco ou simplesmente se abstiveram.
Somados,
são 35 milhões de eleitores voluntariamente apartados do processo de escolha.
Em São Paulo foram 2,4 milhões e ultrapassaram a votação dos dois primeiros
colocados: José Serra (1,8 milhão) e Fernando Haddad (1,7 milhão).
Um
contingente considerável. Digno de chamar atenção dos partidos que, no
lufa-lufa dos preparativos para as disputas do segundo turno, não têm dado
importância ao assunto.
Pelo
menos não falam disso como seria de se esperar, tendo em conta a necessidade
dos candidatos pela maior quantidade possível de votos válidos.
Talvez
para 2012 seja tarde para reagir e dar uma resposta a essa legião que arranja
seu próprio jeito de escapar da imposição (antiquada) do voto obrigatório.
Na
prática, vota quem quer. A obrigatoriedade só serve para dar mais trabalho a
quem não quer. Contudo, fosse o voto facultativo, a ausência não seria ainda
maior?
Provavelmente.
Mas pelo menos os partidos não teriam garantida uma reserva de mercado. Os
políticos precisariam trabalhar mais, se comportar melhor e dar ouvidos à
opinião pública na entressafra dos períodos eleitorais se quisessem assegurar
presença razoável do público na hora de votar.
Claro
que o distanciamento entre representantes e representados não decorre da obrigatoriedade
do voto. A crescente indiferença é sintoma de algo muito maior. Problema de
diagnóstico conhecido e solução sempre apontada na direção da reforma política.
Pregação
que tem se mostrado inútil porque os partidos de verdade não querem mudar coisa
alguma. Ficam discutindo em termos incompreensíveis aos ouvidos da maioria que
obviamente não se entusiasma com o debate.
Isso
quando não insistem em propostas desprovidas de respaldo social. É o caso do
financiamento público de campanha.
Ora,
se o público se afasta do processo eleitoral, é de se concluir que não esteja
disposto a pagar mais por isso.
Aqui
voltamos à questão do voto obrigatório: o que mais poderia aproximar a
população da política se não a proposição de um tema que afeta diretamente seus
direitos e deveres?
Posto
o cidadão no centro desse universo, é grande a chance de lhe ser despertado o
interesse a partir do qual pode se criar um ambiente propício à reforma
política.
Da
perspectiva daquele de quem emana o poder nos termos do artigo 1.º da
Constituição.
Fogo
na roupa. Comandante do PMDB na Bahia, o ex-ministro Geddel Vieira Lima não
gostou de ouvir o presidente nacional do partido, Valdir Raupp, dizer à
imprensa que ele entregaria a vice-presidência da Caixa Econômica Federal.
"A
presidente se quiser que me demita", reagiu, argumentando que não foi
nomeado em troca de apoio local ao PT, mas em função da aliança nacional entre
os dois partidos. Tampouco achou adequado o recado enviado pela presidente para
que fizesse "um gesto" ao governador Jaques Wagner, seu desafeto.
"Qual gesto? Só se for para me desmoralizar todo."
Risca
de giz. Caso não tenha ficado entendido, no desfecho do julgamento do núcleo
político por corrupção ativa o Supremo Tribunal Federal desenhou: formar
coalizões partidárias para governar com ampla base aliada não é crime, mas
comprar a lealdade dos partidos é ato criminoso.
A
propósito. A gritaria do ministro Dias Toffoli destoa do garbo argumentativo de
seus colegas de Corte.
12
de outubro de 2012
DORA
KRAMER - O Estado de S.Paulo
FONTE:
http://lorotaspoliticaseverdades.blogspot.com.br/
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