Lula
achava que ministro do Supremo Tribunal Federal era cargo de confiança, da sua
cota pessoal, deles esperava lealdade, fidelidade e gratidão. Mas os ministros
que nomeou não sabiam disso, e estão fazendo o que tem que ser feito, a começar
por Joaquim Barbosa.
Até
as absolvições de Lewandowski e Dias Toffoli servem para legitimar, como
minoria, as condenações que a maioria acachapante do STF impôs aos réus do
mensalão, que foram defendidos pela seleção brasileira de advogados.
Data
venia, com invejável coragem e sem medo do ridículo e do opróbrio, o ministro
Lewandowski tem feito das tripas coração, ou vice-versa, e usado o seu notório
saber jurídico para fechar a cadeia de comando do esquema em Delúbio Soares.
O
ministro gosta de citações e poderia atualizar a frase do rei Luís XV, prevendo
o caos e a destruição se seu reinado caísse, "Après moi, le deluge"
(Depois de mim, o dilúvio), para "Après moi, le Delúbio". Porque, se
chegasse a Dirceu, o dilúvio de lama levaria a Lula.
Afinal,
se continuasse funcionando em silêncio, o esquema garantiria a hegemonia
política absoluta do PT, com uma base de apoio de dar inveja a Chávez, e
poderia manter o partido no poder por 20 anos. Totalmente autossustentável. Era
o que todo mundo fazia, só que muito mais bem feito.
Como
professor de matemática, Delúbio sabia que os números fechavam - e tendiam ao
infinito. Os oito anos de Lula, e mais oito de Dirceu, estariam assegurados. Se
Roberto Jefferson ficasse calado.
Era
um golpe no Estado e na democracia, como julgou o presidente Carlos Ayres
Britto, ironicamente de um partido obcecado pelo golpismo, acusação com que
responde a qualquer crítica.
Não
era um projeto de enriquecimento pessoal, uma ladroagem das elites e da
direita, mas uma audaciosa manobra política, digna de um grande estrategista
como o capitão do time em que Lula era o técnico e o dono da bola, batia córner
e cabeceava, dava os passes e fazia os gols, além de morder a canela dos
adversários para proteger sua meta e defender os companheiros dos juízes, aos
gritos.
Como
não saberia quem patrocinava o time?
12
de outubro de 2012
NELSON
MOTTA- O Estado de S.Paulo
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